Vivendo e Aprendendo!!!

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Já fazem alguns anos que pela primeira vez me senti um estranho dentro de meu próprio país mesmo estando fora de seus limites territoriais. Na ocasião eu estava pela primeira vez na Europa, mais precisamente na cidade de Oxford, na Inglaterra. Sempre tive bastante vontade conhecer esta cidade, e naquele momento estava acompanhado por minha companheira que por ser filha da terra me conduzia à vários locais que embora não fossem tão turísticos, e eu até preferia assim, eram aconchegantes, curiosos e bastante pitorescos.

Num deste locais, mais precisamente na Broad Street, foi o lugar onde tive a tal da estranheza que menciono nas primeiras linhas deste relato. Era uma Livraria comum, como a maioria das que existem nas cidades do Reino Unido e um de nossos programas favoritos. Como é de costume, ao adentrarmos no recinto fomos cada um buscar seus interesses literários e me lembro bem ter me encaminhado para o porão, local este onde se encontravam os títulos de escritores latino-americanos. Lembro-me que procurava algo de Carlos Drumond de Andrade, Casimiro de Abreu ou de Cora Coralina que fosse escrito em inglês para poder presentear meu sogro que é um grande admirador de uma boa leitura e principalmente da literatura latino-americana em geral, e eis que o que encontrei foi a antítese do ultimo autor citado, ou melhor, autora.

Ao dar uma olhada entre os livros observei um nome que me causou estranheza entre Jorge Amado, Ferreira Goulart e Paulo Coelho, e este nome era Carolina Maria de Jesus. O livro questão era intitulado Quarto de Despejo, e se tratava de uma narrativa acerca de diários que retratavam o cotidiano da poeta negra e moradora da Favela do Canindé, em São Paulo. Duas coisas me surpreenderam!! A primeira foi o fato de nunca ter ouvido falar de uma poeta negra e favelada antes mesmo tendo eu na presente ocasião 30 anos de idade. A outra questão que me causou estranheza e diria mal estar foi ter tido a possibilidade de ter acesso a um de seus escritos (tiveram vários) do outro lado do Oceano Atlântico dentro de uma livraria na Inglaterra.

Voltei ao Brasil ainda só, e minha companheira chegaria alguns meses depois para formalizarmos nossa situação sócio-afetiva, no entanto, uma das primeiras coisas que fiz foi realizar uma busca pelas livrarias do Centro do Rio e pela internet visando comprar o livro em questão em português, resultado! Buscas infindáveis e nenhum retorno!!! Certo dia no mês de Outubro daquele mesmo ano, estava eu numa manhã de garoa caminhando à passos largos para o estágio em Furnas quando ao passar por uma Rua em Madureira paro para amarrar meu cadarço. Apoiei o pé direito em cima de uma caminhonete Kia que estava abandonada no local faziam alguns meses e que só servia como depósito de lixo e abrigo para um morador de Rua que sempre observava que saia da mesma pela manhã. Ao começar a fazer o laço, percebi estar com os pés em cima de um livro de capa surrada e dura, como a vida de sua autora, o nome do livro traduzido para doze países…. “Quarto de Despejo”.