Diário de Hospital – 30 de Janeiro de 2014 (Sexto dia de Internação).

      Iniciei este dia com bastante entusiasmo….o motivo, a iminência da alta de minha companheira que realizou operação da tíbia ontem. Hoje pela primeira vez desde que fui transferido para a enfermaria o médico veio nos ver. Somente eu é “W” tínhamos procedimentos mais complexos para realizar, enquanto os outros só tinham curativos que comparativamente falando não pareciam ser tão mais importantes mas que faziam “J1”, “J2” e “V” sofrerem com dores que causavam dó.

      O Sr “V” era o que parecia sofrer mais, pois além de ter as duas pernas e um dos braços impossibilitados de serem movidos, o mesmo ainda tinha em suas costas horríveis arranhões que mais pareciam resquícios de tortura, que na verdade o causavam tortura em vias de fato, sendo que, o suor que escorria pela parte de trás de seu corpo ao bater nos locais lesionados o faziam gemer de dor. “W” que era o único que podia se deslocar através de muletas sempre levantava ou abaixava a cabeceira do leito para o Sr “V” sempre que o mesmo solicitava. Ele também me ajudava demais escorando meu pé que ainda tendia a tombar para a direita ou esquerda  com um cobertor dobrado que passou a ser sinônimo de “não sentir dor” para mim. 

      O médico começou os procedimentos de retirada da tala em “W” que parecia não sofrer muito com dores, no entanto, tinha o tornozelo esquerdo como que em curva para fora devido ao problema ocasionado durante sua recuperação. Ao chegar em mim o médico sacou uma tesoura e foi retirando de cima para baixo as bandagens que me cobriam a perna direita desde o joelho até a ponta dos dedos. Pude perceber suas luvas com resquício do sangue que parecia minar de minha perna e comecei a me sentir enjoado e ao mesmo tempo com medo do que veria…e o que pude observar não foi nada agradável. Minha perna estava repleta de bolhas como as que adquirimos quando sofremos queimaduras provenientes de óleo ou água quente. O médico pegou uma seringa e começou a esgotar o líquido do interior das mesmas, o que fez com que a seringa começasse a ser preenchida por um tipo de substância na cor esverdeada. Era uma ardência fora do comum e o fato de meu pé estar mole como algo sem vida não ajudava no processo. O médico me informou que eu não poderia realizar cirurgia enquanto aquelas bolhas não secassem e que a formação das mesmas era um processo comum à toda lesão por fratura.

      Na verdade, o que me foi dito pela enfermeira que realizou o curativo logo depois é que eles deveriam ter retirado a tala no segundo dia, e que a permanência da mesma havia me causado tal agravo. Confesso ter ficado muito triste em saber que a partir daquele dia eu só dependeria de mim mesmo e de meu organismo para poder ter condições de realizar minha cirurgia, mas poder ver minha companheira ir embora operada e livre daquele local foi algo que me revigorou plenamente e de onde pude retirar meu fio de esperança para mais uma vez mandar a angústia embora e olhar o horizonte, por  mais duro que eu poderia imaginar que o mesmo fosse.